É sempre coerente, em filmes desse tipo, assisti-lo mais de uma vez, para ter certeza do impacto sofrido, e assim o fiz. Classificado como: comédia dramática, este filme pode destinar ao telespectador olhares estranhos, a depender do momento em que uma gargalhada alta exploda, no escuro silencioso do cinema, pois ela poderá ser causada, não pela graça da desgraça dramática da situação exposta na tela, mas principalmente, por uma lembrança do que nunca foi dito e/ou feito, mas sempre se teve vontade; ou de algo, que felizmente, tenha sido um mero espectador.
A roteirização do caos familiar é tão absurdamente real e forte, que faz você nutrir uma mórbida apreciação pela destreza da desgraça, pela forma como caminha, por todos e tudo que fazem parte daquela família. Do elenco não se tira nem se põe nada. Todos, sem exceções, dão conta do recado. E a Julia Roberts, revela uma agradável surpresa, de cara limpa, faz uma bela pintura ao filme. Eu não tenho nada, contra ela, nem a favor, mas sempre a achei uma peça de lego mal encaixada nas dezenas de filmes, que já assisti com ela. Sempre é possível identificar a atriz interpretando um papel, mas neste filme, não há diferença entre atriz e personagem. Meryl Streep, em sua magnificência, conseguiu o impossível, de superar-se em tudo que já fez no cinema, e merece ser incluída no dicionário, como a redefinição da palavra, "Atriz". A mulher está perfeita em tudo, não há como identificar que aquilo, é uma interpretação. É real, assusta, emociona e irrita. Amigos devem ter ligado para ela, mas não para parabenizá-la, mas para perguntarem: "Meryl, está tudo bem contigo?". E vale um breve comentário acerca de sua feminilidade senil, ao mesmo tempo em que está careca, velha e caquética, basta uma peruca e um óculos escuro, para lhe devolver toda beleza e charme.
A adequação de um câncer de boca, a quem sempre mastigou vespas; sujeiras sob o tapete; frustrações; segredos que sempre estiveram em cartazes; os verdadeiros: amor paternal e ódio maternal; a felicidade adquirida e roubada; uma adolescente; um poeta alcoólatra, devastado pela vida; uma viciada; solidão; orgulho; a distância impessoal; os limites. Essas são algumas das figurinhas que compõem este pesado álbum de família, que ao ser visto, página a página, pode fazer você lembrar de algo.