Depois de ter o celular surrupiado e ficar por semanas sem o famigerado WhatsApp, algumas coisas clarearam um pouco mais, acerca de como funciona o esquema de amizades e o reconhecimento, valor que cada um dos ditos amigos estão dispostos a gastar para mantê-la. Você já parou para pensar qual o seu valor? Refiro-me a preço, mesmo, moeda. Quanto vale sua preciosa camaradagem, dedicação e companhia? Pois bem, é sabido que o sistema "whatsappiano" permite efetuar comunicação de dados com poucas limitações e, quase que “de graça”, já que estando em uma zona de Wifi nada será debitado dos créditos ou franquia de dados. E hoje o cordão umbilical de uma criança já vem conectado à rede. Ao menos que se esteja em uma extrema área de sombra, ou no cu do mundo, certamente, é possível se achar algum sinal para navegar. De casa para o trabalho, do trabalho para escola, faculdade, shoppings, clínicas, etc. Ou seja, quase nunca se está desconectado.
Antes de ceder tardiamente ao WhatsApp, eu me comunicava, “celularmente” falando, através de torpedos SMS e MMS. E, de uma agenda repleta de contatos de amigos de infância, colégio e colegas de trabalho, apenas umas três, quatro pessoas correspondiam à altura as conversas e resenhas via SMS ou MMS. Não era incomum encontrar alguém na rua que me dizia “Não respondi aquele dia, pois tava sem crédito”. Após instalar o aplicativo: “buuummmmmmm!”. Eu era praticamente um cantor de sertanejo universitário analfabeto numa arena de éguas siliconadas e potros amigáveis. Passei a me contatar com cerca de 15, 20 pessoas, quase que diariamente; pessoas que deviam ter meu número há anos e só mandavam mensagens no Natal ou quando precisavam de algo. Amigos de infância, colegas de trabalho, bares, paqueras, quase todos passaram a se comunicar. "Poxa que legal!", pensei. A tecnologia serve para isso, para aproximar as pessoas — ou pelo menos deveria —, mas aí, de repente, "puf", perdi a ferramenta, a varinha de condão, a espada justiceira, o gel lubrificante para ereções prolongadas. Fiquei "deswhatzappiado". Sem dar muita importância, peguei na gaveta aquele celular velho, de tecla, sem touch screen, sem android e com Tetris! comuniquei via SMS e e-mail o ocorrido, e pronto!
Nos dias que seguiram percebi que o WhatsApp é um programa conversor de descaso e negligência em gentileza, pois, ao voltar a me contatar por SMS e MMS, as minhas dezenas de amigos desapareceram! Bruscamente, o meu celular parou de vibrar, bipar, tocar. Estava fora da jogada, fora dos parâmetros exigidos para ser um cara popular e legal. Me senti com um Turbo Game na era do Super Nintendo; de pochete presa à cintura em plena Fashion Week 2017. Daquelas 15, 20 pessoas que tinham epilepsia nos dedos, cujo contato para falar desnecessidades era cotidiano, apenas as mesmas três, quatro — ou menos — voltaram a me contatar e a responder aos antiquados torpedos. Mesmo com a maioria das operadoras disponibilizando pacotes e tarifas acessíveis, que variam de R$ 0,75 a R$ 0,99, para o envio de torpedos ilimitados, por dia.
Depois disso, fiz uma repaginada na agenda do celular e passei a colocar na ponta do lápis o valor, preço e peso das minhas relações, para saber qual delas acrescentam zeros a direta ou a esquerda, da calculadora sentimental da vida. Pensem nisso! Façam um teste. Veja quem fura compromisso e não avisa, por estar sem Wifi e não quis gastar os créditos para ligar; diga que está doente ou suma por uns dias e desligue o Wifi. Talvez seja decepcionante, frustrante, mas útil, descobrir que são poucas as pessoas que optam por saber sobre você gastando uns centavos a mais.