O objetivo de todo ser humano é ter um destino próprio, autorregulado, minimamente controlado e saudável; óbvio, muitos se perdem pelos caminhos tortuosos, uns acham atalhos e alguns desistem de tentar. O mundo está cada vez mais desregrado, louco, fútil e cruel. Jovens afundados em drogas, banalidades, violência, perversão e a maldita pressão que gera depressão e que, talvez, seja uma das personas do tal apocalipse, que ocorre cotidianamente há anos, e todos ainda o aguardam. Todos têm que ser superiores e diferentes de todos, mesmo que, para isso, no íntimo, a inferioridade se iguale. Você tem que ganhar dinheiro, tem que ter o carro da moda, beber a cerveja nova, manter o corpo conforme te aceitem, gozar pelo buraco que te indicam, consumir o que dizem que vai te fazer bem, ter casa, fazer filhos, casar, ter o multiprocessador que passa na TV, ser social em redes sociais, tratar seu filho como o maior dos fudiões e sua filha como a reencarnação de Irmã Dulce, fazer terapia e bater no peito em pleno infarto e dizer, como disse o Maurício Pacheco: “Eu sou melhor que você, mas, por favor, fique comigo que eu não tenho mais ninguém!”.
A vida te encurrala, a mídia te soca, os amigos te frustram, os desconhecidos te molestam, o dinheiro não basta — ele nunca bastou —, a fama também não, e tudo se resume em quanto você pode aguentar e disfarçar! Lembra-se do célebre diálogo do personagem Rocky Balboa com o zé buceta do seu filho? Pois bem. Todos estão atentos, todos estão aguardando e ávidos pela desgraça alheia, não como urubus vigilantes, os homens são muito piores do que isso! E, quando algo acontece, todo e qualquer ser dotado de “telencéfalo altamente desenvolvido e do polegar opositor” resolve abrir a tampa do esgoto verbal para proferir, não uma “scatisunami” de opiniões, afinal, o livre pensamento é um direito adquirido sob muita luta, mas para proferir verdades! Pois todos só abrem a boca para falar a mais pura, cruel e exata verdade. Sem nenhum espaço para suposições ou oposições diante das imposições. Tudo que todos falam corresponde a tudo que o outro deve ser, fazer e seguir. Todos têm um manual para guiar a vida alheia e esquecem que, se tudo está tão errado, é porque todos — absolutamente todos —, em sua medíocre intimidade e lucidez, estão certos! De tal forma que não conseguem enxergar o pandemônio causado, pela certeza do errado e vice-versa. Todos se sentem no direito absoluto de ser o Deus do inferno alheio.
O artista, famoso ou não, o ente querido, o empresário, o vizinho que tomou chumbinho, a balconista que pulou da ponte, o mendigo que se enforcou, o adolescente que sofria bullying, e tantos outros devorados pela vida ao seu redor. Que seus últimos instantes tenham sido mais leves do que todo o caminho que percorreu até tomar esta decisão; e que a certeza do término seja compatível com a expectativa de um novo recomeço em um plano onde humanos sejam apenas lembranças de um mal que passou. Fiquem em paz!
* A todos aqueles que desnorteados encontraram o norte do suicídio.
