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O Inventeiro de palavriação

Atualizado: 4 de mar. de 2021

— E então seu moço, vosmecê me disse que queria falar comigo, pois tem um oficio que mais ninguém no mundo tem. É isso mesmo? — disse Jorbas, limpando as mãos numa flanela suja, em frente ao seu estabelecimento.

— Mas é isso mesmo meu senhor. Fico numa lisonjeança incrível de saber que me deu uma parcelagem de seu precioso tempo — responde o forasteiro, retirando o chapéu em cumprimento a Jorbas.

— O que é então, que vosmecê faz de tão especial, assim, que só você e mais ninguém sabe fazer?

— Já vi que o senhor é um homem de vasta rapidabilidez, não gosta de arrudeanças. Eu posso lhe ajudar. Eu posso criar, posso adiantar uma nação, posso possibilitar com uma facilitude incrívistica, a arte da criacez.

— Criação de quê? Se nada tenho a criar, adiantamento de que, se nada tenho a te adiantar?

— Mas não é da vendação de livros e cartas que o mestre sobrevive?

— Sim, vendo livros, peças de arte, escrevo cartas e comunico notícias das mais sérias aos causos inventados.

— Pois então, eu posso fazer dezenas, centenas, milhares de variações ou varianças de uma única palavra tua.

— Eu não estou entendendo mais nada do queres me dizer. Desembuche de uma vez, que meu tempo não é para dar. É para vender.

— E se eu disser ao senhor que a vendura de seus livros pode ter uma aumentação, sem maiores investanças?

— Tu tá é ficando é louco. Se nem falar sabe como é que pode aumentar a vendagem de meus livros sem investir muitos tostões? Que confusão é essa?

— Não tem confuzeira alguma. Louco tô ficando eu ou louco já tá o Senhor, que entendeu tudinho aquilo, que por meio de outras palavras lhe transpassei? De quem será mesmo a loucuração?

— Mais claro que entendi. Apenas te corrigi, precisamos falar certo para não causar aperreações.

— Aperretância, palavra errada não causa, não, meu Senhor. O que causa chatiagem é me entender e não me dar solução. Pra que falar numa bunitez e na unicidez, se podemos usar uma variança de expressionalidade?

— Mas que loucura é essa, seu moço. Eu não posso ficar aqui aguentando esse alvoroço.

— Aguentadeiro, já sei que tu não és. Agora quero é saber se podes fazer uma acompanhação na velocidez de minha raciocinalização.

— Pois diga, que vosmecê não tá falando com qualquer um, não.

— Pois bem, não há necessitude de eu lhe enganar, muito menos necessitância de amostramento. Eu apenas querúlhe dizer que há uma infinitez na existância de expressamento, e que por mais que haja um diferenciamento e estranhagem, ainda assim, o outro pode compreensar. Assim, não há erro nessa falação é só uma questão de ignoramento dos valores de culturância do tal cristão.

— Mas isso é claro que eu sei. Cada qual fala à sua maneira, cada cidade, cada região tem sua peculiaridade linguística, mas você tá inventando português.

— E olha vosmecê, começando a compreenteder a oficiatura de minha profissão. Mas o que quero dizer é que não basta a peculiarização e sim aceitude daquela sentimentação, pois o que foi dito em tal falação pode ser compreensado sem nenhuma prejudição, erro ou confusamento.

— Mais confuso quem tá me deixando e vosmecê, eu ainda não entendi o que quer de mim.

— Antes ceçi, eu te deixasse em estado de confusadez. A sofrança não seria tão grande.

— Como assim?

— Ora, ora, se estivesse confuso não estaria entendendo uma variança, sequer, dos palavriamentos que te falo. Estaria totalmente desnorteado, desrrumado, mas entende em plena avivação de tudez. E ainda, assim, nega minha oficiez? Quem fica em confusamento sou eu, não vosmecê.

— Eu entendi perfeitamente o que vosmecê falou, mas ainda não consigo compreender o que quer de mim, meu senhor.

— Ora, ora senhor espertalhão, não se faça de miseravolente para com meus dotes natos de cidadão. Essa sua desentendação, já está me causando um aziamento desgraçado. Eu não quero faladice nem aproveitadice, só quero ajudar e divulgar a minha palavriação.

— Mas como quer que eu faça isto?

— Mas a nititude disto é tão grande!

— Você está tirando sarro com a minha cara seu moleque! — disse Jorbas irritado, virando as costas e entrando.

— Sinto uma inquietudedêz, uma imensidês de desesperidês em sua assemblação. Mas espere um abucadinho só — Jorbas recua, com ar insatisfeito. — Não há profunditute alguma nisso, apenas me deixe trabalhar contigo. Mostrar-te-ei-lhe do que sou capaz, e juntos através dos seus livros e manuscritos mostraremos ao mundo a variedês da comunicação.

— Mas afinal de contas, que diabos vosmecê realmente é?

— Transformo o que quer ser dito numa infinitudice expressívica.

— Não tenho tempo para essas suas chacotas, seu charlatão. Passar bem e não me importune mais — Jorbas entra furioso em seu estabelecimento.

— Eu heim! Que tristança, como pode um homem de tão grandiçe intelectualística, ter ainda maioritude ingnoranciamento pela linguidade e criativança humanística. Compreensou tudo que falei e desfalei, mas não se deu a permitude de crer, aprender e fazer a devida aproveitude de minha profissão: um simplista, complexibilista Inventeiro de Palavriação — pensou o forasteiro, seguindo seu caminho.


* Ao mestre Suas suna

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