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O eclipse Skylab

Atualizado: 25 de dez. de 2023


O Eclipse Skylab

InFeto


Em outubro de 2023, um fenômeno jamais ocorrido em Salvador, ocorreu! Que porra de Eclipse! Pau no cu do Sol e da Lua! O fato foi que o veinho desequilibrado, são e tarado, auto proclamado “O Rei do Cu” aportou em Salvador, após 40 anos sem pisar na terra do “CuDendê”, para a realização de dois shows por cá, sendo esses os primeiros que fez aqui desde que insistiu em fazer música. Há 40 anos, o safadinho esteve por cá em uma breve moradia, segundo ele, no bairro da Graça. Depois disso retornou ao Rio e lá começou sua saga pitoresca (fora da grei) na senhora música e literatura.

Com mais de 30 álbuns lançados entre estúdio, parcerias e ao vivo, Rogério Skylab veio a Salvador não só para os shows, mas também para o lançamento do seu segundo livro de poesia “Futebol de cego”, que foi realizado em 11/10, no tradicional bar Velho Espanha, localizado no semiboêmio bairro dos Barris. Lá por volta das 19h, Skylab chegou acompanhado de sua magnífica esposa Solange, aqui cabe um enorme recheio de parênteses (que mulher fantástica, cheirosa, bonita, sagaz, fala doce e mansa, simpática, sorriso infante e ainda com o ?poder/dádiva/carma? de aturar o personagem Skylab em sua vida por décadas). Com presença do representante Marcelo Nogueira das editoras Kotter e Letra Selvagem, a coisa se deu simples, “de boa”, sem qualquer atrativo a mais. Senti falta de um microfone aberto para leituras/recitais do público e do próprio Skylab. Lá, o filósofo-veinho-tarado, sentou, bebeu, mijou, atendeu ao público – formado em geral por jovens, alguns muito jovens – com muita simpatia, falou sobre o que cada um queria falar ao autografar os livros: política, futebol, cu, poesia, música, filosofia, sua obra e afins, Até assinou a camisa do Fluminense para um leitor. Por volta das 22h e pouca, como dizemos por aqui, se despediu e “se picou”.

Os shows foram realizados nos dias 12 e 13 de outubro, no teatro Jorge Amado, que parecia ter sido aspirado e espanado pela última vez quando Jorge esteve por lá. Meu parco dinheiro só me permitiu ir em um dos shows, no caso, na sexta-feira 13. Com pouco mais de 60% do espaço preenchido, o público que se dividia basicamente em 03 categorias: 01) jovens, 02) muito jovens 03) pré-geriátricos (como eu) aguardavam ansiosos o início do show que começou as 19h05. A abertura ficou por conta da clássica “Roubaram meu pau”, em seguida engatou sequências de alguns clássicos, outras menos conhecidas, releituras de algumas mais antigas como a do primeirão, de 1992, “Fora da Grei”, as mais novas do álbum “Caos e Cosmos 3”, e uma homenagem ao eterno Júpiter Maçã, com a impagável “Lugar do caralho”, que apesar da similaridade de influências, foi a canção que mais se destoou no repertório, mas ainda assim muito válida e comemorada. Tudo isso com pouca interação com o público, seu negócio é cantar e dar seu show esquizoide pitoresco com seus memoráveis passinhos epilépticos paralíticos. Basicamente se resumia a falar “O show tá começando agora!” e engatava uma catarrada sonora. Vale demais dedicar uma grande “DE FUDER!” a banda do Skylab, um power trio pra lá de power, alinhados, afinados na pegada rock. Pedro Aune com linhas de baixos cutucando cus; solos de guitarras esporradas por Igor Bilheri; e o Rodrigo Scofield sentando a mão como se estivesse tocando num trio elétrico. Energia pura! Na atuação dramatúrgica da música Plasil, Skylab utilizou uma cenoura como um pau enfiado na boca e em seguida mastigou e “ejaculou” vitamina C no público... como quem regurgita o Brasil! Me perguntei “Será que ele tomou todas as vacinas da Covid?”

O público deu um pequeno show à parte, pois a ansiedade era algo generalizada. Creio que a maioria dos ali presente estava vendo o Skylab ao vivo pela primeira vez. Algumas pessoas bem jovens, ululantes, emocionadas por, talvez, pela primeira vez na vida terem a oportunidade de ouvir alto e poder gritar palavras libertadoras como “cu, buceta e pica” sem serem censuradas. A todo término de música alguns gritavam nomes de canções que queriam ouvir; um desses jovens encasquetou com “O rei do cu”, lá pela quinta ou sexta vez que gritou, alguém não aguentou e respondeu à altura “Vai tomar no cu!”. Também ocorreu o dramatúrgico ritual da chuva de cigarros em “Tem cigarro aí?” Fico me perguntando quando as empresas cigarreiras vão chamar Skylab para fazer propaganda de cigarros, e se, a esposa dele, Solange, na condição de artística plástica, não pensou em algum momento recolher todos esses cigarros para fazer alguma obra, peça, instalação, afins.

O show durou cerca de 01h40 com direito a um bis. O que não foi suficiente para matar a sede sonora dos conhecedores da extensa obra do artista. Muitas e muitas músicas consideradas famosas para o público Skylabiano ficaram de fora. A carreira e a produção são extensas demais, se fosse cantar todos os “clássicos” um show de 03h, talvez, não fosse suficiente. Músicas como Câncer no cu, Ladrão é Polícia, Derrame, Tudo isso, Lava as mãos, Vamos repetir de novo, Para de rocar, filha da puta, Silva Maria, Me dá tudo que tiveres, Semana Passada, IML, Eu fico Nervoso e tantas outras ficaram de fora do repertório. O bis, que culminou na subida do público ao palco, espremendo o frágil ser Skylabiano, que mantinha um olhar de “que porra!”, e foi em seguida suspenso e saracoteado, jogado para cima feito um mamulengo com a cara de “Eu amo tudo muito isso, mas é chato pra caralho!”, enquanto o refrão da derradeira era gritado por vozes engalfinhadas do público "E você vai continuar fazendo música?”

O espetáculo terminou, o público se acalmou, o palco repleto de cigarros se apagou. Saímos satisfeitos, afinal foi um evento único, não se sabe quando ele voltará, e se voltará. Talvez um outro fenômeno natural ocorra antes. Pela lógica matemática Skylab não viverá mais 40 anos, e se depender desta terra ele também não voltará a convites. Quem foi, foi!... ou posso estar enganado.

Depois do fim, indo a pé para um bar próximo com um novo amigo que fiz pelas “vias anais” do Skylab, fomos interpelado por um guardador de carro “Diga, meu patrão! Desculpa incomodar... vocês tem cigarro aí?”. A filosofia Skylabiana não mente!
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