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Assistindo TV

Atualizado: 4 de mar. de 2021

Dona Edicleuzane e seu Edvaldo se ajeitam para assistir um filme numa tarde de domingo em sua confortável casinha do interior, após almoçarem um delicioso cozido, comida típica dominical deles.

— Vai começar... — diz Edicleuzane, endireitando um travesseiro nas costas.

— Já vou! — grita Edvaldo, lá do banheiro.

— Já começou!

— Estou indo — diz Edvaldo dando descarga e lavando as mãos rapidamente.

— Perdi muita coisa?

Edicleuzane nada responde e gargalha com as primeiras cenas do filme.

— O que foi que eu não vi? — pergunta Edvaldo.

— A mulher caiu na escada, toda desajeitada.

— Nem vi. Vou pegar o ventilador, tá fazendo um calor retado — diz Edvaldo se levantando com dificuldade do macio sofá que afundava suas nádegas.

— Tá mesmo — diz Edicleuzane se abanando com as mãos.

— A EXTENSÃO TAÍ? — pergunta gritando do quarto.

— E EU LÁ SEI DE EXTENSÃO! — responde enfezada.

— Esse aí de verde é o mesmo que pegou o colar? — pergunta, enquanto ajeita e liga o ventilador.

— Ora! Presta atenção, num assistiu do começo e fica perguntando as coisas, atrapalhando quem tá assistindo. E vira este negócio deste ventilador para lá, num tem necessidade disso.

— Mas...

— Num quero saber, não.

Seu Edvaldo senta emburrado e logo em seguida gargalha com o filme. — Porra, velho, pancada segura o cara deu.

Depois de um breve silêncio seguido de uma série de bocejos, seu Edvaldo começa a cochilar e a roncar.

— Vai pra cama, homem de Deus! Parece galinha prenha, dorme em qualquer lugar! — esbraveja Edicleuzane.

— Ah, me deixa, num tô dormindo! — diz resmungando. — Ela casou com ele, foi?

— Ora, ora! Fica aí dormindo que nem um porco e quer saber das coisas. Você é triste, viu... num sei de nada, não — responde chateada, cruzando os braços e batendo o pé seguidas vezes.

— Esse aí num é o marido da branquela da novela das oito? — insiste Edvaldo em mais uma pergunta.

— Pelo amor de Deus, assim não dá. Fica falando besteira, o filme é do estrangeiro, como é que o ator vai ser da novela? — responde sem paciência, abrindo os braços.

— Sei lá...

— Mas parece mesmo.

— Vou tomar um cafezinho, vai querer?

— Acabou de comer neste instante e já vai tomar café?!

— Vou fazer um fresquinho.

— Coloque dois dedinhos, preto, pra mim — diz fazendo sinal de pequenino com o dedo polegar e o indicador.

Seu Edvaldo se levanta e vai em direção à cozinha.

— ELE MATOU O CARA! — grita da sala, Edicleuzane.

— O BANDIDO? — grita da cozinha, Edvaldo.

— SIM — responde.

Seu Edvaldo esquenta a água no pequeno papeiro e dissolve o café solúvel, adoça, e retorna à sala com as duas xícaras fumegantes.

— Afé Maria! Que ignorância, eu falei dois dedinhos, você pega e enche a xícara.

O telefone toca. Seu Edvaldo atende após entregar às xícaras a dona Edicleuzane.

— Alô, alô... a ligação está ruim. ALÔ, ALÔ!

— Tá surdo, porra!? Fala baixo, quero escutar o filme — resmunga dona Edicleuzane.

— Alô... desligaram a zorra.

— Deve ser de telefone público.

— E quem diabos é, que, hoje ainda usa telefone publico?

— E eu sei lá...

O telefone toca novamente.

— Deixe que eu pego — dona Edicleuzane levanta.

— Alô!... Quem deseja?... Hum...

— Quem é? — pergunta Edvaldo.

Dona Edicleuzane faz sinal de “psiii”, encostando o dedo sobre os lábios.

— Oh, Edvaldo tá viajando... Não, não sei quando ele retorna... Tá bom. Tchau — Dona Edicleuzane desliga o telefone e volta ao sofá.

— Banco? — pergunta Edvaldo.

— Essas puta, fica ligando pra casa dos outros, em pleno domingo... Hum, hum... Que fedor é esse? Você peidou aí, seu miserável? Que falta de educação, não respeita os outros. Droga, que carniça, eu não sou cachorro, não. Seu Edvaldo ri de forma sádica, alisando a barriga.

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