top of page
Foto do escritorInFeto

Abuso carnavalesco

Pra quem curte Carnaval e tem algum resquício de inteligência e discernimento da atual e permanente situação do país, sabe que fica cada vez mais difícil curtir essa festa de forma tranquila, digna e sem se sentir lesado ou manipulado. Os tempos antigos já se foram, já era. Não voltam mais as épocas de boas músicas — ou menos piores — e dos blocos que tinham fantasias em modelos e tecidos realmente bons, alguns davam até fichas de bebidas, e a insegurança e a violência não trajavam em tanta quantidade os foliões. Olhando os famigerados e desejados blocos e camarotes, alguns chegam a custar mais de R$1.500 por dia de folia com todos os confortos. Já os blocos mais conhecidos e modais chegam a mais de R$800 a diária de um máximo de 08 horas de circuito, sem qualquer conforto, bebida ou segurança, e, às vezes, com muita enrolação e desrespeito, pois muitas bandas não estão preparadas para a maratona carnavalesca, muitas são ruins mesmo, e outras já não aguentam mais o tranco, devido a exaustão de décadas. O fato é que, num país que vive uma epidemia de máfia, roubo, corrupção, mentiras, promessas políticas e tem uma nação diariamente molestada de forma psicastênica pelas condições de saúde, educação e segurança; fica fácil ludibriar o povo, devido a sua necessidade intensa de se anestesiar.

Não tenho nada contra a festa "crua" do Carnaval; é um negócio como muitos outros, que tem que ser aproveitado por quem pode, mas não da forma extorsiva que acontece. Poderia ser uma manifestação cultural de igualdade democrática, sem os cartéis de tudo (bebida, comida, banda, estacionamento, etc) e respeito, a quem faz a festa — o folião —, mas, infelizmente, é melhor não pensar — é mais trabalhoso e cansativo que ir atrás do trio elétrico e pagar pequenas fortunas por um pedaço de flanela pintada e de péssima qualidade. Viva o Carnaval? Sim, viva! Mas que tenhamos consciência dos abusos cometidos pelas produtoras, pelos artistas, pelo Governo, pelo comércio e por todos envolvidos em sua realização que como sempre no Brasil, transformam algo que poderia representar e enaltecer o povo em uma forma de escravizá-lo, idiotabilizá-lo e excluí-lo cada vez mais.

Faça um protesto festivo carnavalesco, busque uma alternativa mais viável para se diverti. Prestigie as boas bandas que tocam em blocos com valores mais acessíveis, menos abusivos, prestigie os circuitos alternativos da cidade, que resgatam os antigos Carnavais com marchinhas, sambinhas e fanfarras, que levam às ruas foliões comprometidos com a paz e diversão. Prefira comprar nas mãos de ambulantes honestos que nas grandes redes, atente-se às verdadeiras manifestações populares e faça do seu Carnaval um motivo para se alegrar, revigorar-se, namorar, celebrar, e não de servir de massa de manobra para os interesses dos poderosos. Como milhares tem esta grana, ou não, — mas vendem até a alma para manter o status — nada mudará. Nos próximos anos, os abadás e os camarotes estarão cada vez mais caros, seus donos cada vez mais ricos, e o povo cada vez mais pobre de espírito e de respeito. Contudo, como somos uma nação de descarados e sem vergonhas, passamos no cartão de crédito e parcelamos em algumas encarnações e tá tudo maravilhoso, “de boa, cabelo voa!”.
3 visualizações
bottom of page