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Foto do escritorInFeto

Acerto de contas

Atualizado: 4 de mar. de 2021

Já perdi a conta da quantidade de vezes

Que vi o dia nascer, enquanto morto em mim

Dias alegres, cinzentos, chuvosos, temerosos

Feriados, sextas, segundas, dias indefinidos.

Já perdi a conta de quantas vezes contei até mil

Para não explodir e resistir àquelas cartelas de Lexotan

E ao chamado do asfalto, ouvido cá, de minha janela

Enquanto mastigava o colchão e lambia as paredes.

Já perdi a conta de quantas mensagens desesperadas mandei

Em busca de algum afago mágico ou de um bom lunático acordado

Todos meus anjos dormem um sono que não me pertence

Enquanto os demônios reúnem-se, frenéticos, no pub de minha alma.

Já perdi a conta de quantas vezes me fiz cafuné, preparei café

E jurei ódio a Deus, ao Sol, à farmacologia e ao leiteiro feliz

Olhando, com inveja, o mendigo dormindo sob a marquise

Junto com seu cão, esperanças, papelão, sonhos e pesadelos.

Já perdi a conta de quantas vezes o Corujão e Sessão de Gala

Impediu o SAMU de trabalhar em plena madrugada

E a TV, ali, ligada, era a única forma de aquecer a alma

Enquanto os vizinhos roncavam, peidavam ou trepavam.

Já perdi a conta das contas

Mas agora é hora e acertá-la

Sem promissórias, carnês ou pré-datados

Vou retirá-la do prego e pendurá-la no teto.

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